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Entrevista a Livraria Blooks: Primeiro Ciclo Outras Histórias do Brasil: Resistências e Reparações

Iniciei através do Circulo Olympio Marquês, mais conhecido como COLYMAR. Na década de 90. Estava em meu ensino médio quando conheci e participei de várias atividades do COLYMAR que é uma ONG que contribui no trabalho de informação, formação e promoção de nossa comunidade, com vistas à recuperação, ampliação e garantia de nosso espaço no mercado de trabalho, inserção política e social. Lá, eu conheci a Ruth Pinheiro que hoje é da Rede Brasil Afro empreendedor e o Jorge Conceição Aparecido, autor do livro O Empresário Negro, entre outros ícones que me apresentaram o caminho do empreendedorismo negro. Continuei engajada, através da EDUCAFRO, na mesma época quando eu era estudante do pré-vestibular comunitário para negros e carentes. Onde conheci frei David que ainda tinha uma pequena sala na Igreja da Matriz, na Cidade de São João de Meriti. Continuo engajada em vários grupos destes movimentos até hoje!

Saímos da janela e viramos para o espelho. Estamos nos apropriando e retomando ao protagonismo de nossa história.

A nossa cultura é a nossa identidade e por ela nunca paramos de lutar pela liberdade e dignidade de exercê-la. Rompemos, de forma tímida, o ciclo da não representatividade no Brasil e no mundo. Precisamos solidificar cada passo e conquista para entregar a próxima geração.

Carolina de Jesus não entrou pelo “Quarto de Despejo”. Conceição e todos os outros tem a consciência que podem e tem o direito de entrar por onde eles quiserem, principalmente, pela porta da frente. Eles são os reflexos da nossa resistência, resiliência e empoderamento em busca da nossa representatividade. A candidatura e o intercâmbio são alguns dos golpes que a nossa literatura/cultura negra usa ao jogar capoeira com a esta sociedade doente que tem uma ABL que não nos representa. Mas, agora, os nossos golpes tem a ginga do pensamento crítico e de uma ação mais estruturada.

Quando intercâmbios como esses ocorrem, há o estabelecimento de um quilombo intelectual que alivia a pressão da mente e do coaração através do encontro com as nossas raízes no olhar do outro, mediante a prisão epistemológica que vive a nossa cultura.

A minha esperança é que a ampliação de acesso ao conhecimento e informação da nossa história fortaleça a nossa habilidade emocional como consequência para avançarmos.

Rompemos com o ciclo da não representatividade. Agora é continuar a resistir, inspirar novos autores para o enfrentamento do processo de produção que não é oportunizado e promovido pelas grandes editoras e eventos literários. O impacto está longe de ser o ideal. Mas, toda a cachoeira começa da nascente!

O surgimento destes termos tem haver com o rompimento do ciclo de não representatividade e com a forma de apropriação e protagonização da nossa própria história que mencionei no início. Se enquanto seres humanos, cidadãos e sociedade fizéssemos aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco esses lugares não seriam necessários. Pois, haveria amor, paz, empatia e viveríamos no fluxo do respeito ao que é diverso e adverso.

Considero que é um mecanismo, uma ferramenta e um direito que estamos aprendendo a utilizar para a desinvibilizarmos. É recomendável usar sem o radicalismo que inviabiliza o diálogo.

Ter a consciência da importância da utilização do lugar de falar e escuta é primordial para a construção e crescimento da nossa identidade emocional, racional, pessoal, profissional e cultural.

Sobre o lugar de escuta é necessário um longo caminho para o seu estabelecimento e melhor compreensão. Ele, ainda, é visto como uma forma de consentimento com aquilo que não se concorda. Se você só escuta e não fala, você está concordando com o que se diz. Mas, não é bem assim! O exercício de escuta precisa ser ativo, com atenção, empatia, disponibilidade interior e estratégico dependendo da situação. Escuta-se para aprender, ensinar, exemplificar e doar a energia da audição para aqueles que precisam ser escutados. Escutar também transforma o mundo e as pessoas.

Esta sociedade formada a partir do racismo estrutural é o corpo com que o nosso corpo preto pessoal e de nação continua a lutar capoeira, lembra? Voltando a questão do nosso objetivo de liberdade, respiramos a todo o momento o pensamento de como atingi-la. Do pensamento transferimos para a resistência empírica ou consciente a prática da ginga da sobrevivência desde a diáspora fazendo-a evoluir. Ela é a base que nos conecta e une. Este momento político que estamos vivendo exemplifica bem isso.

Um conjunto de ações é o que registra os avanços que conseguimos a partir da luta de nossos ancestrais, precursores e contemporâneos que resistiram e resistem bravamente. Esses avanços continuam ameaçados em função da não solidificação e do não exercício pleno dos nossos direitos. Essas ações são marcos, conquistas importantes da nossa história. Entre eles destaco esses:

· A Lei 12.711/2012, referente às cotas de ingresso nas universidades e nas instituições federais.

· A Lei 10.639/1996 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira”.

· O Artigo 68 da ADCT — Ato das Disposições Constitucionais e Transitórias que determina a regularização territorial das comunidades quilombolas e protege o direito á preservação de sua cultura.

Sobre a questão da restituição, acredito que ela só será completa quando um negro, uma negra fechar os olhos e conseguir identificar os seus verdadeiros sentimentos, crenças, valores e ações sem a presença de fragmentos emocionais da ação da sociedade opressora, doente e racistamente estruturada. Essa será a evidência da dignidade naturalizada proveniente da verdadeira liberdade.

Sim, os jovens negros vêm impactando as estruturas. São os Millennials com faixa etária de 18 a 35 anos, nativos digitais que estão demandando modificações sociais. E, ao não encontrá-las necessárias ao seu perfil, simplesmente, as cria. São jovens potências que não são compreendidos, aceitos e visibilizados pela sociedade tradicional e intrinsecamente eugênica.

Acredito no poder transformador positivo dos jovens! É para eles que estamos entregando a sociedade, então, precisamos promover cada vez mais o aumento de sua consciência e pertencimento sobre a sua história, direitos e oportunidades e ferramentas que estão ao seu dispor.

Trabalho com consultoria em desenvolvimento de liderança! Esses mesmos jovens são os meus principais clientes em termos de faixa etária e, em gênero, são as mulheres jovens negras. O trabalho consiste em fazer com que eles se autoconheçam e se apropriem das suas forças e potencias. Saiam da estrutura de pensamentos limitantes que construíram para eles e não por eles.

O meu trabalho tem um impacto imediato e positivo no presente, pois leva a reflexão e logo para a ação. O futuro é agora, já, neste momento! Entrego uma pessoa melhor para a sociedade, reconectada com a sua verdadeira essência e com lucidez que de pronto, organicamente contagia outras pessoas e transforma o meio em que vive.

Sempre o impacto é positivo! Pois, parto do princípio que liderar é influenciar e todos nós em algum momento em nossa trajetória ou determinada área da nossa vida influenciamos alguém e a nós mesmos. O resgate as origens, identidades e autoestima se dão em conjunto de forma integral no decorrer do processo de desenvolvimento que promove o autoconhecimento, que gera uma melhor percepção, que propicia assertivas respostas e automaticamente produz excelentes resultados. Entre as várias ferramentas que utilizo o coaching é a principal delas.

Essa iniciativa é de alta relevância. Como disse, agora, os nossos golpes de luta são intelectuais e essa maravilhosa programação é mais um instrumento de promoção de conhecimento, entendimento e transparência da nossa história, cultura e identidade. A partir disso a nossa autoestima cresce, fortifica-se e caminhamos rumo a um país e sociedade saudável através de uma luta mais assertiva!

Minha missão é ajudar na evolução das pessoas! Convidá-las a ter uma visão ampliada de mundo, um propósito e a construção de um legado nesta existência. Lembrá-las que temos que assumir e apropriar-se da luz existente em cada um de nós. Essa é a mesma luz que é energia e matéria no universo. A forma como a conduzimos é que faz toda a transformação positiva no mundo e nas pessoas.

Paralelo a nossa luta de libertação em busca da nossa essência e identidade como Cidadãos, País, Povo, Nação, Território, Estado e Sociedade mantenhamos a fé no amor em ação e na vitória da luz sobre as sombras. Somos o que realizamos no tempo presente. Continuemos a ousar, posicionando-nos a favor da dignidade humana e da natureza. Construamos um legado de paz e prosperidade para todos, a começar na nossa mente.

Complemento a minha mensagem com o mesmo texto que Nelson Mandela utilizou em seu discurso de posse e que traduz o meu pensamento. Ele é da escritora Marianne Williamson e chama-se “Nosso medo mais profundo” do livro “Um retorno ao amor: reflexões sobre os princípios de um curso em milagres”, 1992:

“Nosso medo mais profundo não é que somos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além da medida. É a nossa luz, não a nossa escuridão que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, lindo, talentoso, fabuloso? Na verdade, quem você não é para ser? Você é filho de Deus. Seu medo não serve o mundo. Não há nada esclarecido sobre o encolhimento para que outras pessoas não se sintam inseguras ao seu redor. Estamos todos destinados a brilhar, como as crianças fazem. Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. Não é só em alguns de nós; está em todos. E quando deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente, damos a outras pessoas permissão para fazer o mesmo. À medida que nos libertamos do nosso próprio medo, nossa presença automaticamente liberta os outros.”

Postado originalmente em Livraria Blooks

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